Wednesday, July 11

amor de libelinha

li por aí...


"há dias, estive nas margens de uma ribeira. Aveloeiras faziam sombra na água, onde esperneavam os bichinhos alfaiates. Um melro observava-os, pendurado num pé de cicuta com mais de três metros de altura. Sim, um veneno terrivel, mas a água onde se espetava a sau cenoura mortal era boa. So há libelinhas onde a água é pura. Vi uma azul turquesa, outra verde cobalto e ainda um casal de libélulas mais pequenas, cor de sangue escuro. Preparavam alguma, decerto, creio que um gigante de duas botas lhes interrompeu a dança nupacial. O macho tinha os olhos raiados de sangue em todos os seus alvéolos, quando em enxotava, mas era a cor natural deles.
lembrei-me de um livro de Marc Giraud sobre " a vida extraordinaria dos animais que nos rodeiam". Jornalista francês especializado em zoologia, nunca percebeu as pessoas que vão ao campo e dizem que se aborrecem. O livro chama-se precisamente "o kama-sutra das libelinhas".
Duas libelinhas em reprodução desenham com os corpos um coração.
É bonito e rima, mas fácil é que não é.
Quando se encontra amorosamente com a fêmea, o macho tem de seguir um caderno de exercicios que tentarei explicar. Sou leigo em acrobacias insectiformes. Primeiro, o macho tem de encostar o seu pénis, situado no segundo abdómen, ao local onde se produzem os espermatozoides, que fica o mais longe possivel, no nono e último segmento do seu esticadissimo corpo. Parece tão romântico como sair a correr para encontrar uma farmacia de serviço, antes de começar a noite, por um estúpido esquecimento.
Depois de transportar o seu esperma até ao pénis, o macho segura a fêmea pela cabeça, apertando-lhe fortemente o pescoço com a pinça da cauda. A fêmea, presa a uma palhinha vertical (...) faz então o seu contorcionismo, para que o orgão genital feminino, colado no penúltimo segmento, encontre o pénis do maho - segundo segmento abdominal, relembro - e dá-se o milagre da vida, em forma de coração!
se isto não é amor, o que é?
(...)
As libelinhas passam cerca de cinco anos debaixo de água, como larvas carnivoras horrorosas. Na minha opinião, é o animal mais feio do sistema solar, mesmo que encontrem outros. Passam por 15 metamorfoses (...)até saírem e secarem as asas e ficarem aqueles insectos lindos, capazes de planar sobre a natureza nas suas lâminas de cristal. Cá fora, só têm dois meses para encontrar um parceiro para a acrobacia do coração. E depois morrer. (...)"


obrigado por as teres secado ;)...

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