"Exmº Senhor Bastonario da OA:
Antes de mais permita-me o pedido de desculpas por só agora responder à carta supramencionada, que faz hoje dois meses teve a amabilidade de me enviar; e aindamais quando, antes dela, outras houve a que não consegui dar resposta pertinente e atempada. Mas que quer?
Procurava respnder-lhe como o jogador que, ameaçado de ir à bancarrota pela sequencia deitada sobre a mesa pelo adversario, lançasse sobre ela quatro ases clamando, fulminante: "Touché", que o mesmo é aqui dizer: "eis as quotas -pagas!"
Ainda tentei, meu caro Bastonario, abrir um banco e declarar-me falido logo de seguida, na esperança de que o Estado, aceitando sem reservas aquele dogma de fé da III Republica, segundo o qual o governador do Banco de Portugal é pessoa de competencia e saber acima de qualquer duvida, me lançasse uma mão salvadora e me poupasse as adições da insolvência. Nada disso, porém, aconteceu. Tentei cobrar alguns creditos, mas a maquina estadual empanou; tentei haver alguns reforços de provisão, mas a Providência negou-se; em desespero, lancei-me ao chão e ergui a cabeça e os braços em suplica para o Ceu e gritei, sem pudor do plágio: " Pai, Pai, porque me abandonaste?!"; e pareceu-me ouvir, dos recônditos da alma, uma voz longínqua que dizia "É p´ra não seres parvo, filho! Quem te mandou ser advogado num Estado que está longe de ser realmente de Direito?"
Ora, é neste ponto que estou. Compreende? Eu podia mandar-lhe uns cheques pré-datados e fazer que sim, que estava tudo garantido...mas, ó meu carissimo Bastonario, eu sou um pobre advogado de provincia, não sou um pinoquio primo-ministeriável.
Promessas cambiárias leva-as o vento, e eu não posso comprometer a minha palavra em papel de duvidosa valia; já que aquela é das poucas coisas de valor que ainda possuo.
O que lhe posso propor então? Simplesmente isto: dê-me tempo! Uma esmolinha de tempo, até ao fim da época desportiva em curso. E contra esta dou-lhe a minha palavra de que, se até essa altura - 15 de Julho - não satisfizer todas as quotas em divida até àquela data, tomarei a iniciativa de requerer a suspensão da inscrição.
Bem sei que é um negocio dificil de aceitar; mas, caramba!, dou-lhe de garantia o que de mais valioso tenho, já que as barbas, essas, vou ter de as cortar em breve para ver se melhoro a fisionomia e com ela consigo cultivar o optimismo para o ano dificil que parece aí vir.
Atentamente, "
FABULOSO! :D